Você já se perguntou até que ponto o tipo de hierarquia e o processo de tomada de decisão estão vinculados? Uma não deveria andar lado a lado com a outra? A princípio parece lógico que em uma cultura hierárquica, a tomada de decisão seja “top-down” e em uma cultura igualitária a tomada de decisão seja consensual. Mas, surpreendentemente, nem sempre é assim!
Sim, as dimensões de hierarquia e consenso podem parecer que deveriam sempre estar alinhadas, mas na verdade, elas medem aspectos diferentes da tomada de decisão e da liderança, que podem coexistir de maneiras inesperadas em algumas culturas. Aqui está a diferença e por que elas nem sempre coincidem:
Em culturas hierárquicas, o poder e a autoridade concentram-se nas mãos de poucos líderes formais, que mantêm certo distanciamento dos demais membros. Por outro lado, as culturas igualitárias prezam por uma liderança mais compartilhada e próxima.
No que diz respeito à tomada de decisão, no estilo “top-down” a decisão está na mão dos líderes, que determinam o rumo a ser seguido sem consultas. Já o método consensual busca ouvir todas as partes envolvidas, de modo que uma escolha só é tomada após consenso.
Contudo, algumas sociedades conseguem equilibrar essas aparentes dicotomias de forma singular. Embora valorizem a hierarquia e o comando claro, procuram também ouvir diferentes perspectivas antes de fechar um acordo. Dessa forma, hierarquia e consenso podem coexistir de forma complementar, e não necessariamente antagônica, em determinadas realidades culturais.
Por que Elas Nem Sempre caminham juntas
O ponto fundamental é que os estilos de liderança e os modos de tomada de decisão nem sempre precisam caminhar juntos como talvez se possa pressupor. Em certas culturas, as escolhas podem ser realizadas de forma conciliatória dentro de uma estrutura hierárquica, já em outras culturas, as decisões podem ser levadas a efeito de cima para baixo dentro de uma estrutura igualitária. Vejamos como isso funciona na prática:
Hierárquico e Consensual (Exemplo: Japão)
O Japão caracteriza-se por uma cultura altamente hierárquica, onde o respeito à autoridade e às funções formais é forte.
Todavia, o processo decisório habitualmente se dá de modo consensual. Ainda que o líder detenha autoridade formal, é corrente que as escolhas sejam tomadas após ampla consulta e acordo entre todos os integrantes de um grupo. Esse procedimento é conhecido como “ringi-sho”, onde o consenso é construído antes de uma decisão formal ser adotada pelo dirigente.
Neste caso, a autoridade do líder é respeitada, porém o ato de decidir envolve diversas pessoas.
Igualitário e “Top-Down” (Exemplo: Estados Unidos)
Os EUA tendem a ter um estilo de chefia mais igualitário, onde os gestores com frequência são vistos como pares ou colaboradores.
Entretanto, o processo decisório algumas vezes pode ocorrer de cima para baixo, especialmente em ambientes empresariais de ritmo acelerado. Ainda que os administradores trabalhem de perto com suas equipes, eles com certa regularidade tomam a resolução final rapidamente, sem necessariamente buscar consenso total.
Isso significa que, mesmo numa cultura onde as pessoas veem seus dirigentes como iguais, a tomada de decisões pode ser centralizada.
As duas dimensões—hierárquico/igualitário e “top-down”/consensual—refletem tendências culturais distintas:
- Hierarquia/Igualitário foca na distribuição de poder e em como os líderes se relacionam com suas equipes.
- “Tomada de decisão” foca no processo de como uma decisão final é alcançada e quantas opiniões são consideradas antes disso.
A função da autoridade na tomada de decisão consensual
Em culturas hierárquicas onde as decisões são tomadas por consentimento coletivo, a autoridade do líder ainda desempenha um papel importante, mesmo que as escolhas sejam consensuais. Aqui estão algumas razões pelas quais a autoridade é relevante em um processo de acordo:
1. Autoridade para iniciar e guiar o processo e orientar o consentimento
Em culturas hierárquicas que também são consensuais, como no Japão, o poder do líder não se manifesta tanto na escolha em si, mas em começar, conduzir e moderar o processo de acordo. O chefe tem a responsabilidade de garantir que todos os pontos de vista pertinentes sejam ouvidos e que o consentimento seja alcançado. Ele ou ela define as diretrizes, facilita as discussões e certifica-se de que todos concordem.
A autoridade do líder assegura que o processo decisório seja organizado e que ninguém “fuja das rédeas”, mantendo o respeito pelas regras e pela hierarquia ao longo do processo.
2. Aprovação final
Mesmo em processos consensuais, o líder ainda detém a autoridade final para ratificar ou aprovar a decisão. Isso significa que, uma vez que o grupo chegou a um acordo, o chefe precisa dar o sinal verde final. Esse poder dá ao líder a chance de vetar ou ajustar a escolha se houver algo que ele ou ela considere inapropriado.
Em culturas como a japonesa, o processo de consentimento pode parecer horizontal, mas o líder ainda tem a palavra final, preservando assim sua autoridade formal.
3. A responsabilidade e representação do líder
No final, o líder deve assumir a responsabilidade pela decisão, mesmo que tenha sido alcançada em concordância. Se algo der errado, ele deverá responder. Isso demonstra a autoridade que permanece forte, pois a culpa ou o crédito recai sobre o chefe, não sobre o grupo.
A autoridade do líder também o torna o porta-voz da decisão consensual perante outros setores da organização, reforçando sua importância no processo.
4. A autoridade para intervir em momento de impasse
Em situações onde o acordo é difícil de alcançar ou o time fica em ponto morto, o líder tem o poder para interferir e tomar uma decisão. Essa capacidade de “quebrar o empate” é uma forma significante de poder, já que a concordância nem sempre é fácil de obter, e o chefe pode precisar encerrar as discussões e optar sozinho.
5. Manter a ordem e o respeito
A autoridade mantém o respeito e a ordem no processo. Em culturas hierárquicas, o respeito pela autoridade é essencial, mesmo quando as decisões são tomadas em conjunto. O líder atua como um “fiscal” do processo, garantindo que ele seja conduzido de maneira apropriada e que o consenso não seja distorcido por pressões ou opiniões mais dominantes.
A autoridade em uma cultura hierárquica serve não apenas para tomar decisões de forma autocrática, mas para organizar, guiar e aprovar o processo decisório, assegurando que o acordo seja alcançado de forma estruturada. O líder é fundamental para o equilíbrio entre ouvir o grupo e garantir que a decisão respeite a hierarquia e os objetivos da organização. Portanto, mesmo com concordância, a autoridade continua a ser relevante para garantir o bom andamento do processo e para assumir a responsabilidade final pela decisão.
Conclusão
Em resumo, a relação entre hierarquia e tomada de decisão é mais complexa do que pode parecer à primeira vista. Culturas hierárquicas não excluem necessariamente a possibilidade de processos decisórios consensuais, e culturas igualitárias podem adotar decisões “top-down” em momentos de necessidade. O importante é compreender que essas dimensões não são mutuamente excludentes, mas, em vez disso, podem coexistir e se complementar em diferentes contextos. A chave para o sucesso organizacional reside em equilibrar essas dinâmicas de maneira que respeitem a cultura local e as necessidades da organização, garantindo tanto a eficiência quanto o respeito pela diversidade de opiniões e pela estrutura de poder.